Considerado um dos maiores complexos industriais do Nordeste, o Grupo João Santos obteve uma receita de R$ 2,8 bilhões, em 2009 |
Nos últimos meses, a Itapessoca Agroindustrial foi palco de acontecimentos que chamaram a atenção da sociedade e das autoridades para a situação em que seus funcionários se encontraram. Com meses de salário atrasados, os trabalhadores da fábrica de cimento simplesmente cruzaram os braços e se recusaram a trabalhar. Muitos alegavam até estar passando fome. A crise entre os trabalhadores e a empresa precisou de interferência do Ministério Público do Trabalho, pois a classe alegava a falta de diálogo e o descaso com a situação. O ápice da situação aconteceu no dia em que manifestantes protestaram com cartazes e apitos em frente ao escritório central da empresa, no Recife.
Mal uma solução paliativa foi dada ao caso dos trabalhadores de Itapessoca, os funcionários de outra empresa do Grupo João Santos se depararam com a mesma situação. Com salários atrasados desde o mês de janeiro e após negociações que não garantiram resultados satisfatórios, foi a vez dos trabalhadores da CAIG (Usina Santa Teresa) pararem de trabalhar.
Indústrias do Grupo pararam no tempo
Mesmo sendo um dos mais poderosos do Brasil, o Grupo João Santos parou no tempo. A preocupação com as questões familiares ganhou mais importância do que o futuro rentável dos empreendimentos.
A prova disso é o atraso na modernização das fábricas e a busca por novos mercados que não saíram do papel. No caso do Cimento Nassau, o problema ainda é maior. A fábrica possui uma planta da década de 50, de difícil e complexa operação e manutenção. Somado a isso, o surgimento de novas fábricas de cimento na região, como o Cimento Nacional, em Pitimbu PB, do Grupo Ricardo Brennand, com plantas modernas e produção maior, acabou impactando diretamente na venda do Cimento Nassau, que deixou de ser o mais procurado devido ao preço.
No epicentro dos atrasos salariais e desvalorização de seus produtos está a questão familiar.
Uma reportagem produzida pela revista Isto É Dinheiro, em 2010, já anunciava a crise instaurada que, mais cedo ou mais tarde, resultaria na situação atual.
No entanto, o império do Grupo começou a andar mal das pernas há 7 anos, na ocasião da morte do patriarca e presidente do conglomerado, João Pereira dos Santos.
Segundo a reportagem, a briga pelo controle do grupo teria de um lado Fernando Santos, José Bernadino Santos e Maria Clara Santos, filhos de João Santos e do outro lado as irmãs de João Santos, Ana Maria Santos e Rosália Santos, além de Alexandra, Rodrigo e Maria Helena, filhos do primogênito João Santos Filho, que faleceu na década de 80. As discórdias entre os parentes de João Santos começaram em 2009, durante o inventário dos bens deixados por ele.
A reportagem do Goiana Notícias procurou, por diversas vezes, durante a semana, os porta-vozes do Grupo João Santos, mas não obteve qualquer resposta. O Grupo também não possui assessoria de imprensa.
Sangue e morte no canavial de Santa Teresa
Em 2010, a Justiça de Pernambuco condenou a Companhia Agroindustrial de Goiana (CAIG) a pagar uma indenização de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com juros e correção monetária, à família do trabalhador Luiz Carlos da Silva, funcionário da Usina, que foi assassinado com um tiro na nuca pelos Policias Militares e seguranças da CAIG.
Em 4 de novembro de 1998, os canavieiros da Usina Santa Teresa e de todo o estado de Pernambuco estavam em greve, reivindicando melhores salários, pois, naquele ano, recebiam R$ 2,50 por tonelada de cana cortada.
Diante da paralisação de seus canavieiros, a CAIG contratou cortadores de bambus para realizarem o serviço. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiana, juntamente com mais 80 grevistas, se dirigiu à Usina para convencer os demais trabalhadores a aderirem a greve.
Nas terras da Santa Teresa, um bloqueio formado por Policiais Militares e seguranças da CAIG interceptaram o grupo e promoveram uma verdadeira matança, segundo o Ministério Público. Nesta noite, que marcou profundamente a categoria e a população de Goiana, treze trabalhadores rurais foram feridos com tiros nas costas e Luiz Carlos da Silva, 27 anos de idade na época, foi assassinado com um tiro na nuca.
A justiça ainda condenou 5 soldados e 1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco, o administrador da Usina Santa Teresa, o encarregado da Segurança e mais 8 seguranças.
Vereadores não perdoaram dívidas do Grupo João Santos
O Governo do Estado e a Prefeitura Municipal enviaram um projeto para a Câmara de Vereadores de Goiana, em 2013, tentando aprovar a isenção do Imposto sobre Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI) do Grupo Industrial João Santos. Se fosse aprovado, o grupo se livraria de uma dívida de quase R$ 4 milhões com o município de Goiana. Os vereadores, por 12 votos a 1, não aprovaram a isenção.
Fonte e Data da Publicação Original: Publicado no site RIACHONET em 06/03/2017